o tamanho que sou
nas coisas que faço
não diminui a grandeza
das coisas que sinto
1Menino.Só
por vezes, tento me encaixar numa coisa só
ser uma singularidade
uma palavra
um só ser
uma retidão sem atalhos
de nada adianta
somos todos plurais
um amontoado de letras
um caledoscópio de nós mesmos
uma curva constante, como as linhas da Terra
1Menino.Só
ele olhava a cidade de cima
percebia caminhos desconhecidos
percorria novas vias com seus olhos
com imaginação, andava para dar em lugar algum
porque o desejo do mover-se
não era maior que a vontade de estar imóvel
a solidão lhe acompanhava bem de perto
e muito aprendia em cada rota
que traçava dentro de si
aos poucos, ecos de passos distantes
formaram sombras entre as árvores
e o silêncio virou luz
que tocava nas coisas reais
e apagava
as trilhas
dos sonhos
…
1Menino.Só
Mais uma vez a insônia me procura
pra conversar…
E me encontra no silêncio da noite
que não quer calar…
Ela me conta histórias sobre a Vida
me relembra a Infância, há tanto esquecida…
E traz à tona o tom perfeito
do céu azul dos que não sonham…
1Menino.Só
Tem dias,
não é que eu seja infeliz,
mas que não me divirto tanto.
Aliás, a infelicidade nunca me acerta.
A tristeza, às vezes, me visita.
Afinal, é bem diferente perceber-se triste
do que saber-se infeliz.
Portanto, nestes dias que os problemas da vida,
como grandes nuvens que encobrem o sol,
me fazem confuso…
não sou nem um pouco infeliz.
Apenas entristeço um pouco
e não sorrio em larga escala.
1Menino.Só
Recebi o inverno na rua
Suas pequenas mãos gelaram meus cabelos
O hálito do vento era fresco como um amanhecer
No rosto da noite, sombra nenhuma revelou-se
E o único lugar cálido da paisagem
Era dentro de minhas ideias veranis.
1Menino.Só
Em noites de Lua cheia a cidade deveria apagar suas luzes…
1Menino.Só
Todos são turistas no Verão
Mesmo aqueles que ficam onde sempre estão
São turistas das culturas que outros trarão
Nas mesmas paisagens verás milhares de novidades
Serão novos os mesmos lugares
A cada amanhecer, gente nova pra se ver
A cada dia aquele que ali mora é mais turista
Todos são passageiros no Verão que por nós passa
Os que partem porque se vão
E os que ficam pelo que lembrarão
1Menino.Só
Não há, no ponteiro das cores,
que o céu tece nas horas
o momento que a noite morre
enquanto o dia brota.
Não há o enterro do breu
para o horizonte parir o sol.
No firmamento, o que acontece
é que o lençol que a noite veste
recolhe-se preguiçoso.
Enquanto a luz, aos poucos,
se derrama farta pela cama.
1Menino.Só