Pedido azul

24 09 2018

Se neste universo de infinitas possibilidades, por algum acaso passageiro, me fosse dada a chance de pedir algo, escolheria o azul.

Desejo estar rotineiramente sob o teto azul do céu. Pois assim se vê o nascer e o dormir do sol. Contempla-se a teia que as estrelas tecem no infinito. Sente-se o vento tocar a pele. Sendo ele alívio ou tremor, conforme a roda das estações. É sob o céu aberto que se enxerga as flores ganhando cor e o alimento inchado-se de vida.

Desejo rotineiramente estar imerso no azul do mar, onde vive-se com menos peso. Flutua-se quase sem gravidade. Onde a liberdade não é uma ideia, é uma sensação. Onde o movimento é constante mas não é apressado. E até mesmo a brutalidade tem sua dose de maciez.

E é no mar que os elementos naturais constrõem as formas geométricas que mais me fascinam, as ondas tubulares. Frente à elas, não sou apenas espectador. Essas formas de água me convidam para tomar parte em sua dança, para celebrar o movimento da vida em seu âmago e me ensinam a viver o tempo de outra forma.

Escolheria o azul porque é nele que vivo a vida que imaginei. E envolvido nele, nenhum dia perde-se. Somam-se as horas, multiplicam-se as sensações e dimiuem-se os pensamentos.

E sendo parte deste azul, a cada dia posso ver que todas as coisas passam. Mesmo as ondas mais revoltas, mesmo as tempestades mais violentas. A mesma força que molda as intempéries desvanece para formar a calma.

E vivendo nesta imensidão de azul, aprendo que sou pequeno. Um ponto inexpressivo no céu. Uma gota perdida no oceano. E pela minha pequenez nisso tudo, não devo pedir nada. E assim, não peço. Apenas sonho, com os olhos mergulhados no azul.

Lucas De Nardi





Sonho em vida

13 09 2018


O sonho havia transpassado a barreira que o separa da realidade. De tanto ser sonhado, ele aprendera a se disfarçar de verdade. E vestindo-se assim, fez casa em minha vida.

Acordava a cada dia e era sonho o que eu vivia.

As noites eram curtas, os colchões eram lençóis e os caminhos eram sempre longos. No entanto, a cada nova paisagem, a cada raio de sol e em cada gota do mar que tocava o rosto havia um pouco de sonho. Havia um filtro que insistia em me lembrar que a realidade só era aquela porque antes daquilo tudo acontecer, houve o sonho.

E sendo o tempo presente o único acontecimento que embalava a mente, não pensava. Fechava meus olhos e vivia. E sonhava muito mais.

Lucas De Nardi