Anotação de 10 de novembro

30 11 2020

Pela primeira vez
desde há muito tempo
hoje me senti só.

Não estava solitário.
Senti-me só.

A solidão é amiga.
Seu silêncio me faz companhia.
Estar só é esvaziar-se de laços.

Andar solitário é desprender-se do que é sólido.
É desamarrar os nós mais pesados.
Criar teias, frágeis sustentações.
Atirar-se em espaços sem luz.
Trazer luminosidade à percepção.
Criar caminho caminhando.
Ser pioneiro da história que ninguém ouviu.

Hoje, no entanto, me senti só.
Havia silêncio na casa.
Amigos apenas na distância.
Nenhuma braço me segurava.
Nenhuma abraço me confortou.

Eu tinha a mim mesmo
mas estava vazio.
Me senti pequeno.
Desconstruído.
Peça caída
sob o tabuleiro.

Só.

Sem luz
sem laços
sem espaço conhecido
sem paisagens nos olhos.

Segui em frente.
A realidade
é o que percebo no agora
e não os pensamentos que me habitam.

O amanhã é incerto
como tudo fora deste momento
como todas as promessas já feitas
pelo menos agora
o só é presença.

Lucas De Nardi