Ela dançava

15 08 2011

Ela, então, passou a mão no meu olhar e o tirou para dançar. Mas eu não me movia, porque meus olhos não viam mais nada. E se fez impossível sair do lugar.
Ela não dançava para aparecer mais que qualquer outra, ela não dançava seduzindo a mim, ela não dançava apenas. Ela dançava sabendo que só ela existia para quem a visse, dançava ciente que o mundo um dia acabaria, mas agora o mundo era ela e era todo seu. Ela dançava e seu corpo não precisava de música porque seus desejos a embalavam. Ela dançava de forma louca… de forma linda… ela dançava… e nada mais se movia em mim, senão a ânsia do seu corpo no meu, numa outra dança…

T. Conthey





Sobre meu ventre, teu cansaço.

15 08 2011

Queria que você deitasse
Na cama dos meus braços
E então, pesasse
Sobre meu ventre, teu cansaço.

Amoroso





em dias frios de chuva

1 08 2011

A vida,
em dias frios de chuva,
entre gotas gélidas e nuvens cinzas,
invariavelmente,
é mais miserável.

Enquanto,
acima de tudo,
dourado e quente,
o Sol brilha,
como a debochar de toda gente.

Lucas De Nardi





Passagem das Horas, Álvaro de Campos

1 08 2011

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.