Sentei-me do lado de fora
tentando enxergar a própria vida.
Alguns raios do dia entravam pela porta.
As janelas, como pálpebras suavemente fechadas.
A cor da fachada lembrava o entardecer.
Entrei como hóspede, trazia olhos de curiosidade.
Nos corredores, nenhum quadro, poucas fotos.
Palavras pintavam as paredes.
Em cada quarto, um pouco de memória
e um tanto de esquecimento.
Cheiros de vida nos aromas da cozinha.
Na sala, uma TV muda
como um náufrago no deserto.
A solidão em cada gota do chuveiro.
E nenhum fantasma no sótão.
No telhado, um guarda-sol esperava a chuva.
Livros preenchiam espaços na memória.
Amigos contavam histórias das prateleiras.
A imensa cama derramada no chão
como um gramado à espera do sereno.
No pátio, algumas poltronas
e uma grande tela
onde projeto meus sonhos.