Casa

19 08 2015

Sentei-me do lado de fora
tentando enxergar a própria vida.

Alguns raios do dia entravam pela porta.

As janelas, como pálpebras suavemente fechadas.

A cor da fachada lembrava o entardecer.

Entrei como hóspede, trazia olhos de curiosidade.

Nos corredores, nenhum quadro, poucas fotos.
Palavras pintavam as paredes.

Em cada quarto, um pouco de memória
e um tanto de esquecimento.

Cheiros de vida nos aromas da cozinha.

Na sala, uma TV muda
como um náufrago no deserto.

A solidão em cada gota do chuveiro.
E nenhum fantasma no sótão.

No telhado, um guarda-sol esperava a chuva.

Livros preenchiam espaços na memória.
Amigos contavam histórias das prateleiras.

A imensa cama derramada no chão
como um gramado à espera do sereno.

No pátio, algumas poltronas
                           e uma grande tela
                                       onde projeto meus sonhos.

image





16 05 2013

σύμπαν2

 
o tamanho que sou
nas coisas que faço
não diminui a grandeza
das coisas que sinto

1Menino.Só





Quantos somos…

23 12 2012

Caledoscópio

por vezes, tento me encaixar numa coisa só
ser uma singularidade
uma palavra
um só ser
uma retidão sem atalhos

de nada adianta
somos todos plurais
um amontoado de letras
um caledoscópio de nós mesmos
uma curva constante, como as linhas da Terra

1Menino.Só





Apagava as trilhas dos sonhos

27 10 2012

ele olhava a cidade de cima
percebia caminhos desconhecidos
percorria novas vias com seus olhos
com imaginação, andava para dar em lugar algum

porque o desejo do mover-se
não era maior que a vontade de estar imóvel

a solidão lhe acompanhava bem de perto
e muito aprendia em cada rota
que traçava dentro de si

aos poucos, ecos de passos distantes
formaram sombras entre as árvores
e o silêncio virou luz
que tocava nas coisas reais
e apagava
as trilhas
dos sonhos

1Menino.Só





Da série Poemas antigos, quase esquecidos

20 08 2012

Mais uma vez a insônia me procura
pra conversar…

E me encontra no silêncio da noite
que não quer calar…

Ela me conta histórias sobre a Vida
me relembra a Infância, há tanto esquecida…

E traz à tona o tom perfeito
do céu azul dos que não sonham…

1Menino.Só





a infelicidade nunca me acerta

3 08 2012

Tem dias,
não é que eu seja infeliz,
mas que não me divirto tanto.

Aliás, a infelicidade nunca me acerta.
A tristeza, às vezes, me visita.

Afinal, é bem diferente perceber-se triste
do que saber-se infeliz.

Portanto, nestes dias que os problemas da vida,
como grandes nuvens que encobrem o sol,
me fazem confuso…
não sou nem um pouco infeliz.
Apenas entristeço um pouco
e não sorrio em larga escala.

1Menino.Só





Winter time

21 06 2012

Recebi o inverno na rua
Suas pequenas mãos gelaram meus cabelos
O hálito do vento era fresco como um amanhecer
No rosto da noite, sombra nenhuma revelou-se
E o único lugar cálido da paisagem
Era dentro de minhas ideias veranis.

1Menino.Só





Em noites de Lua cheia

9 02 2012

Em noites de Lua cheia a cidade deveria apagar suas luzes…

1Menino.Só

Foto: Rafaela Camerini





Da série Poemas antigos, quase esquecidos

1 02 2012

Todos são turistas no Verão
Mesmo aqueles que ficam onde sempre estão
São turistas das culturas que outros trarão
Nas mesmas paisagens verás milhares de novidades
Serão novos os mesmos lugares

A cada amanhecer, gente nova pra se ver
A cada dia aquele que ali mora é mais turista
Todos são passageiros no Verão que por nós passa
Os que partem porque se vão
E os que ficam pelo que lembrarão

1Menino.Só





Fim da noite?

19 07 2011

Não há, no ponteiro das cores,
que o céu tece nas horas
o momento que a noite morre
enquanto o dia brota.

Não há o enterro do breu
para o horizonte parir o sol.

No firmamento, o que acontece
é que o lençol que a noite veste
recolhe-se preguiçoso.
Enquanto a luz, aos poucos,
se derrama farta pela cama.

1Menino.Só